quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Outro fragmento de "O palácio dos vales", o romance que escrevi












-A senhora deseja mais alguma coisa?
Diz a gentil atendente da loja, ao mesmo tempo em que entrega um embrulho de presente.
-Até que eu gostaria de levar aquele óculos, só que hoje não vai dar. Meu dinheiro está curto e tudo nessa loja é muito caro... Diz a  cliente, enquanto recebe o embrulho em suas mãos.
-Moça, de qual óculos que você gostou?
A mulher olha para o lado e vê um belo jovem, muito bem vestido, sorrindo para ela.

Seu sorriso parece o de um anjo.
-Eu te conheço de algum lugar? A mulher pergunta, surpresa.
-Ora, por quê? Responde o rapaz.
-Perdoe-me, é que eu não costumo aceitar presentes de estranhos... Diz isso e em seguida, sai de perto do jovem, em direção à porta de saída da Boutique.
Ele a toca com delicadeza no braço e diz:
-Então tá: posso saber qual é o seu nome?
-Pillar. Responde.
Pois é, Pillar: é que quando ouvi você falar do óculos, eu pensei: esse óculos é realmente lindo. Mas, sem você, por mais lindo que ele seja, ele é apenas um óculos
-Eu também acho que sou linda, obrigada. E acho que mesmo sem o óculos, continuarei linda, e daí? Respondeu Pillar em tom de ironia, já pensando em deixar o rapaz, ali, falando sozinho.

-Pois é... Continuou... Dessa vez, se aproximando dela. E bem pertinho do seu ouvido, ele sussurra:

-Esse óculos, apesar de ser lindo, sem você, será apenas um óculos. Você sem ele, continuará sendo essa mulher linda, continuará sendo você.
Agora, imagine se pudermos unir você e ele?
Imagine: você, com este belo óculos enfeitando ainda mais esse seu lindo rostinho...
Aceite, Pillar. Não é nada demais aceitar um mimo, vez e quando.
De repente, Pillar se encantou com aquele rapaz. Não pelo presente em si. Mas, pela sua atitude, sua maneira de falar. Ela jamais havia conhecido alguém assim, como ele. Parecia tão sincero, tão seguro, tão sedutor, tão... Ela não conseguia encontrar mais nenhum adjetivo que definisse o comportamento daquele jovem, ou, a atração que, subitamente, ele passou e exercer sobre ela.
E ele realmente a atraiu.
-Está bem, eu aceito. Disse isso e em seguida, deu um belo sorriso.
Ele retribuiu o sorriso.
-Pode embrulhar este óculos para esta moça, senhora?
Ordena, enquanto retira do bolso uma grande quantia em dinheiro. Muito dinheiro mesmo.

Ela acha estranho e pensa: como pode alguém andar com tanto dinheiro assim?
No momento em que ele paga pelo óculos, ele o pega com a atendente e com as próprias mãos, coloca-o delicadamente no rosto de Pillar.
Se aproxima dela e dessa vez, é ela que sussurra em seu ouvido:
-E eu? Posso saber o nome da pessoa que acaba de me presentear com este lindo óculos?
-O jovem sorri, olha para ela e diz: não.
-Pelo menos, não agora.
Ela, desapontada, suspira e em seguida, diz:
-Mas, isso não é justo. Eu já lhe disse o meu nome.
E ele, agora sorri ainda mais:
-Pois é, se alguém lhe disse que há alguma justiça nesse mundo,é bem certo que esse alguém esteja tentando te iludir.
-Não posso te dizer o meu nome. 

Pelo menos: não agora.
Neste instante, seu telefone toca. Ele atende, conversa por alguns segundos, vai até a porta, chama dois homens para dentro da loja, saca uma pistola, dá dois tiros para o alto e em seguida aponta em direção ao rosto da atendente e diz tranquilamente:
-Moça isso é um assalto!! Passe toda essa grana que você tem aí.
-Não se mexa! Eu não gostaria de fazer mal a ninguém presente neste agradável recinto.

-Se todos cooperarem, isso terminará logo. Ainda tenho muito o que fazer hoje.
-Dessa vez, sua voz está ainda mais firme.
Mesmo muito nervosa e trêmula, a atendente faz tudo o que ele ordena.
Outros clientes são revistados e tem seus bens subtraídos pelos outros dois indivíduos que adentraram na loja, momentos antes.
Enquanto a atendente entrega o dinheiro e as jóias para o jovem, ele ordena que um dos homens chame uma das atendentes e ordena para que ela leve o homem até outra sala e abra o cofre da loja.
Enquanto isso, ele olha para o lado e vê a moça que acabou de conhecer.
Ela está de cabeça baixa e aparentemente muito assustada.
Ainda olhando para ela, ele pergunta para a atendente:
-Moça, quanto custou aquele óculos que comprei para aquela bela mulher?
Mesmo assustada e sem entender nada, a atendente diz o valor.
Ele enfia a mão em seu bolso. Mais uma vez retira o dinheiro, e a entrega.
Ele vai até Pillar, olha carinhosamente para ela e diz, como que se confessando:
-Seria uma grande indelicadeza da minha parte, não pagar pelo presente que acabei de lhe dar.

Dito isto, dessa vez, ele olha firme para Pillar, chama a sua atenção e complementa:
-Entendeu agora moça, porque eu não podia falar o meu nome pra você?
-Espero poder encontra-la por aí.
-Você vem sempre aqui?
-Sim.
Respondeu, assustada:
-Venho. Sempre que posso.
-Moça, cuidado, por onde você anda...
-A violência hoje está tão grande, que não estamos mais seguros em lugar nenhum.
Enquanto ele fala, seu telefone toca novamente. Ele atende, fala por mais alguns segundos, chama os homens novamente e diz para todos que estão no interior da loja:
-Senhoras e senhores, sejam bem-vindos ao Rio de Janeiro.
-Essa cidade ama receber cada um de vocês!!
Voltem sempre!!
Agora, se quiserem permanecer vivos para terem a oportunidade de voltar à cidade maravilhosa, para gastar toda essa grana de vocês, é extremamente importante vocês não saírem de dentro dessa boutique por cerca de dois minutos.
-O que são dois minutos, em relação a uma vida inteira, não é mesmo?
-O que são alguns milhares de reais, em vista da fortuna que vocês ostentam, ou ainda poderão ostentar durante o resto da vida de vocês?
-Desde que vocês, por dois minutos apenas: Permaneçam aí, quietinhos, onde vocês estão...

Tendo dito isso, ele e seus comparsas saem tranquilamente da loja, enquanto educadamente, cumprimentam um cliente que acaba de adentrar no estabelecimento, sem imaginar o que acabou de acontecer.
E assim, Pixote entra na vida de Pillar, para nunca mais sair...


Márcio Diniz.

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