domingo, 3 de novembro de 2019

O orgulhoso de Seropédica — Márcio Diniz











É sábado, manhã ensolarada, e Eberlândio está conversando sobre futebol com Clariomar, seu amigo, num barzinho próximo à sua residência, quando surge o assunto daquele sortudo que acertou os 7 a 1 que a seleção brasileira levou da seleção alemã e ganhou sozinho o bolão daquele jogo. 
Clariomar pergunta: — Eberlândio, o que você faria se ganhasse uma quantia considerável de dinheiro? 
Lembrando que, pouco antes de chegarem a esse assunto, Clariomar havia reclamado da sua televisão; disse, ainda, que ela é antiga e que não está assistindo aos jogos em casa, de tão ruim que a danada está. 
 — Clariomar, meu amigo, se eu ganhasse esse dinheiro, eu ia te dar um baita de um presente: uma smart TV LED, da melhor que tivesse à venda no mercado — com 3D, home theater e tudo! 
 — Mas que absurdo! — Eu jamais aceitaria um presente dessa maneira! 
 — Tudo o que eu possuo é fruto do meu trabalho, do meu suor. 
 Clariomar fez cara de bravo e lançou um olhar sério em direção a Eberlândio, que desconversou e mudou de assunto.
 — Eberlândio, você pode me dar um cigarro? 
— Parei de fumar — respondeu. 
Porém, enfiou a mão no bolso, pegou dinheiro e deu para ele: — Faça o seguinte: aproveite e compre logo um maço pra você. 
Clariomar sorriu, agradeceu feliz da vida, pegou aquele dinheiro e foi atrás do seu bendito maço de cigarro. 
 Saiu. Não voltou mais.
Moral da história: para o fumante que se preza, por maior que seja o seu orgulho, mais vale um maço de cigarro na mão do que uma smart TV LED — da melhor que há à venda no mercado, com 3D, home theater e tudo — voando.

Márcio Diniz

12/07/2014 — Km 40, Seropédica — Rio de Janeiro 

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